O DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) concedeu outorga de uso de água para a futura instalação de uma usina de geração de energia a gás (termelétrica) em Caçapava, empreendimento que vem sendo criticado por ambientalistas.
Ainda na fase inicial, o projeto é da Natural Energia, empresa de desenvolvimento e operação de projetos de energia limpa, que tem sede no Rio de Janeiro. O negócio está registrado com a razão social Termoelétrica São Paulo Geração de Energia Ltda.
Um terreno em Caçapava foi reservado para a possível instalação da termelétrica, que segue com os trâmites de aprovação em órgãos estaduais e federais.
Em novembro do ano passado, uma audiência foi realizada na Câmara dos Deputados em Brasília sobre o assunto.
ÁGUA
De acordo com a aprovação do DAEE, publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo, a termelétrica poderá captar água, por até dois anos, na bacia do Rio Paraíba do Sul, em fontes como aquífero Taubaté, córrego Caetano e ribeirão Caçapava Velha ou Boçoroca.
O negócio é classificado como a “maior termelétrica em potência do Brasil”, que pode ser instalada em área de 15 mil hectares.
O investimento previsto é de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões), com geração de até 2.000 postos de trabalho na fase de obras e mais de 100 empregos diretos e indiretos, com previsão de contratação massiva na cidade de Caçapava.
A usina está em fase de desenvolvimento, dentro do processo de licenciamento ambiental. Somente após a emissão da Licença de Instalação é que as obras serão iniciadas.
CRÍTICAS
No entanto, o projeto vem sendo criticado por ambientalistas da região, que apontam impacto negativo para o meio ambiente.
“A cada dia a ciência descobre efeitos danosos da atividade de termelétricas, principalmente de atividades que poluem o ar. Quando a gente respira isso, ele praticamente vai deteriorando mucosa, e aí a gente tem todos os problemas associados à saúde pela questão respiratória e cardíaca”, disse Wilson Cabral, professor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).
Na avaliação de Luciana Gatti, pesquisadora do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), graduada em Química e doutora em Ciência, a geração de energia por termelétricas não é eficiente.
“Vamos trocar uma matriz energética limpa por uma suja. Enquanto todos os países tentam encontrar alternativas naturais de geração de energia, estamos indo na contramão”, disse a doutora.
OUTRO LADO
Segundo fonte ligada ao negócio, ocorreram “desinformações” que provocaram “certo pânico” na sociedade, mas “ao conhecer a proposta de fato, com responsabilidade, percebemos o quão ela é importante para sociedade”.
“Até porque estamos vivenciando uma corrida energética planetária, estando a região do Vale do Paraíba beneficiada pela abundância, e infraestrutura do gás natural do Litoral Norte Paulista, e não podemos ser irresponsáveis não utilizando desta fonte natural de energia”, disse.
Segundo a fonte, o gás natural desempenha papel significativo na transição energética global, atuando como uma “peça-chave no movimento em direção a fontes de energia mais limpas e sustentáveis”.
“Uma das principais razões para isso é a sua menor pegada de carbono em comparação com combustíveis fósseis tradicionais, como carvão e petróleo. Quando gera energia elétrica, o gás natural emite menos dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes do ar, tornando-o uma alternativa mais ecológica. É o mesmo gás usado nas cozinhas de residências e restaurantes.”
Afirmou ainda que o gás natural “desempenha um papel importante na integração de energias renováveis intermitentes, como a solar e eólica, na matriz energética”.
“Pode ser usado para compensar a variação na geração dessas fontes, garantindo a estabilidade do fornecimento de energia. Não nos esqueçamos de que corremos um grande risco ‘mantendo todos os ovos em um único cesto’, ou seja, dependência da energia hidrelétrica.”